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Proposta 

      Um dos traços mais significativos que marcam o pensamento político na atualidade é a definição de que a política é hoje, hegemonicamente, não o mecanismo democrático de representação no qual a soberania popular deve ser exercida, mas a gestão – reconhecimento e controle – de circuitos afetivos: gestão do medo e da insegurança social e gestão da melancolia individual e coletiva. Hoje, a política é sinônima de governabilidade: não se trata, para governo algum, efetivamente de combater a crise política e econômica que assaltou a sociedade nos últimos anos, mas gerenciar sua própria crise de representatividade. Não é à toa que o atual governo brasileiro, por exemplo, tenha se empenhado tanto nos últimos tempos para aprovar medidas que não encontrariam meios de serem aprovadas caso houvesse um mecanismo direto de decisão popular. Por isso, para a governabilidade de hoje a boa crise não é algo que se combate e elimina, mas algo que se gerencia.

              Em situações de crise política e social é comum percebermos sujeitos e forças políticas em uma posição melancólica: paralisia política causada pela perda de um objeto do qual parece impossível fazer o luto. Essa lógica da melancolia é utilizada pelo poder para criar a contingência necessária para que uma situação seja reconhecida como urgência por amparo e cuidado. O poder gere a experiência de fixação em um objeto perdido, impede que o luto seja feito, alimenta nossas dinâmicas de ressentimento e a crença em nossa própria impotência. A demanda por amparo, que serve para afastar as reais possibilidades de soberania, provoca as mais variadas formas de submissão voluntária: essa é a forma hegemônica de instauração da vida psíquica, a qual deixa como saldo afetivo a melancolia. Na verdade, devemos admitir que nossa mais acentuada forma de submissão se dá precisamente porque o poder nos melancoliza. Essa é sua verdadeira violência, muito mais do que os mecanismos clássicos de coerção e dominação pela força, pois trata-se aqui de violência de uma regulação social que leva o ego a acusar a si mesmo em sua própria vulnerabilidade e a paralisar sua capacidade de ação. O poder não nos submete somente como coerção física e externa, mas principalmente como coerção psíquica.

             Diante desse diagnóstico, nada mais justo nos perguntarmos se, afinal de contas, é possível pensar em uma transformação radical dessa atual experiência política que se caracteriza por uma prática supostamente democrática que, paradoxalmente, subsume a soberania do povo. Ora, poderíamos mesmo chamar de democrático uma governabilidade que se sustenta por afastar cada vez mais do povo seu poder de decisão? Nesse contexto político, em que as lutas sociais que poderiam engajar processos transformativos parecem estar enfraquecidas e bloqueadas pela coerção afetiva que o poder exerce, teriam a psicanálise e a filosofia alguma coisa a dizer, algo a propor?

               A aposta desse encontro é que sim, e neste sentido o Laboratório de Psicanálise de Orientação Lacaniana (Lapso/CCBS/UFCG) e o Grupo de Estudos em Filosofia e Psicanálise (Desvios/UEPB), promovem a I Jornada de Psicanálise e Filosofia com a temática “Melancolia e ato: política e implicações subjetivas”. Psicanálise e Filosofia sempre se interessaram pela ideia de que a política não é somente a racionalização dos possíveis, mas aquilo que essencialmente se pratica em ato. Isso significa que a política não é somente a gestão do serviço dos bens, mas é, como diria o filósofo Vladimir Safatle (2015), “na sua determinação essencial, prática de confrontação com acontecimentos que desorientam a aisthesis do tempo e do espaço, assim como o caráter regular das normas e dos lugares a serem ocupados”.

 

  Nossos objetivos  

  •  Promover pesquisas e reflexões que articulem filosofia e psicanálise;

  • Articular psicanálise e filosofia em torno do tema da melancolia e suas implicações políticas e sociais;

  •  Desenvolver o debate sobre a relação entre a melancolia e o ato analítico para se pensar os problemas políticos da atualidade.

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